À respiração
de cinco mil velas, fitados por montanhas de copos vivos e sorridentes,
Meus passos
abraçavam música, atropelando todo o caos disseminado à frente.
Eu era uma bateria,
a qual engolia todas as emoções ao redor e as cuspia em seguida como se fossem bomba,
Expondo os
sentimentos raivosos aprisionados em mim, ruínas abandonadas em minha alma durante
essa estrada cansativa e longa.
Com a minha amiga
tristeza, naquele salão, eu ia do tango ao balé
Sem sapatilhas,
apenas com os sonhos impulsionando os pés.
Por muitos
anos eu fora um fogo congelado, mas chegara a hora de me libertar
A lagarta
viraria borboleta quando nossa música começasse a tocar.
E aconteceu:
Quando a guitarra cutucou meus ouvidos, comendo as minhas máscaras numa harmonia
desequilibrada,
Fiquei
completamente nu, revelando as longas páginas de minha história desenfreada,
Todas elas
repletas de vários buracos ocos e intocáveis como os das flautas,
Representando
partes de um abismo que outrora roubaram as minhas pernas já sangrentas e
exaustas.
No momento em
que eu dançava, desajeitado como um morcego exposto aos raios de luz
Uma vergonha
intensa surgiu-me em forma de suor, o qual escorreu da testa até a região do pescoço
onde se pendurava a minha cruz.
Repentinamente,
risos maldosos tomaram sobre o meu corpo bêbado enquanto minhas lágrimas misturavam-se
à tinta escura que me coloria as pupilas dos olhos.
No arcaico e
esquecido piano que agora eu era, teclas pretas foram tocadas, acenando para tempos
de guerra e difíceis jogos.
Aquela velha
angústia voltara, torrando toda a minha coragem,
Voltara junto
ao medo de me tornar mais uma vez um chocalho nas mãos da sociedade e um violino
enterrado aos pés daquela família tão selvagem...
E de uma vida
que parecia ser imortal,
Tudo o que
sobrou foi uma gigantesca confusão instrumental!
R.$oares
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