segunda-feira, 20 de agosto de 2018

CONFUSÃO INSTRUMENTAL



À respiração de cinco mil velas, fitados por montanhas de copos vivos e sorridentes,
Meus passos abraçavam música, atropelando todo o caos disseminado à frente.
Eu era uma bateria, a qual engolia todas as emoções ao redor e as cuspia em seguida como se fossem bomba,
Expondo os sentimentos raivosos aprisionados em mim, ruínas abandonadas em minha alma durante essa estrada cansativa e longa.

Com a minha amiga tristeza, naquele salão, eu ia do tango ao balé
Sem sapatilhas, apenas com os sonhos impulsionando os pés.
Por muitos anos eu fora um fogo congelado, mas chegara a hora de me libertar
A lagarta viraria borboleta quando nossa música começasse a tocar.

E aconteceu: Quando a guitarra cutucou meus ouvidos, comendo as minhas máscaras numa harmonia desequilibrada,
Fiquei completamente nu, revelando as longas páginas de minha história desenfreada,
Todas elas repletas de vários buracos ocos e intocáveis como os das flautas,
Representando partes de um abismo que outrora roubaram as minhas pernas já sangrentas e exaustas.

No momento em que eu dançava, desajeitado como um morcego exposto aos raios de luz
Uma vergonha intensa surgiu-me em forma de suor, o qual escorreu da testa até a região do pescoço onde se pendurava a minha cruz.
Repentinamente, risos maldosos tomaram sobre o meu corpo bêbado enquanto minhas lágrimas misturavam-se à tinta escura que me coloria as pupilas dos olhos.
No arcaico e esquecido piano que agora eu era, teclas pretas foram tocadas, acenando para tempos de guerra e difíceis jogos.
Aquela velha angústia voltara, torrando toda a minha coragem,
Voltara junto ao medo de me tornar mais uma vez um chocalho nas mãos da sociedade e um violino enterrado aos pés daquela família tão selvagem...

E de uma vida que parecia ser imortal,
Tudo o que sobrou foi uma gigantesca confusão instrumental!

R.$oares
 https://soaresdosmares.blogspot.com/

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