APRESENTA
GUIA BÁSICO DE
SOBREVIVÊNCIA INTELECTUAL
Minha casa é
meu bairro, minha comunidade. Lá onde eu moro, na periferia, pra maioria dos
meus amigos é assim também. Pra gente, entrar em lugar fechado é só em casa,
pra se esconder do frio, e na escola, onde os adultos mandam a gente ir. No
resto do tempo gostamos de andar e correr pelas ruas, onde nos sentimos livres
de verdade.
Mas, o que
realmente gosto de fazer é dar uns rélos com minhas pipas. Eu e meu amigo, Dito
Coré, somos os campeões da rua. Ninguém ali conseguiu mais pipas do que nós.
Outro dia, num daqueles dias de vendo e sol forte, de queimar o pé no asfalto e
de batizar todos os carretéis, fora três pipas de uma só vez. Foi um desespero
só! Afinal, como correr sozinho atrás de três! O Dito correu atrás da amarela,
eu fui atrás da branca e a vermelha ficou ali, como que esperando ser buscada,
se sentindo ignorada, sendo arrastada pelo vento. No fim, pegamos as três...
mas essa história é longa, conto depois.
Um dos meus
lugares favoritos da cidade são os telhados. Além das várias pipas que já
encontrei (e das várias telhas que já quebrei), também é um lugar onde me
encontro e nunca sou encontrado. Ali posso ficar tranquilo, ouvindo o som dos
humanos e pensando sobre o que quiser. Também levo pra lá alguns livros que meu
avô Gérso me passa, pois ele disse que ler faz bem pra cabeça e que vai me
ajudar a fazer pipas melhores e escolher sempre o caminho mais curto para
chegar até elas.
Entre as
leituras e cochilos que tiro no telhado, gosto também de ficar olhando pras
pessoas. Sabe, percebi que ninguém nunca me viu nos telhados! As pessoas andam
tão ocupadas no trânsito, nos celulares e nelas mesmas que se esquecem de olhar
pra cima e pros lados. No fundo, acho que só olham pra elas mesmas...
Nesse momento
estou lendo um livro de nome ‘’O Caçador de Pipas’’. Já estou quase no fim. Li
o livro muito rápido! Apenas três telhados já foram o suficiente para quase
terminar. Percebi que meu vô me enganou, pois disse que eu ia aprender um monte
de coisas sobre pipas quando lesse o livro. Sobre pipas mesmo não aprendi quase
nada! Mas, como é um livro que fala sobre uma região bem longe daqui, aprendi
que as pessoas são pessoas em todo lugar do mundo e sentem mais ou menos as
mesmas coisas que todos nós sentimos, seja aqui do telhado, aqui na comunidade
ou em toda cidade.
Agora deixa
eu ir, que estou vendo lá de longe uma pipa no horizonte!
Essa acho que vai ser difícil, mas a correria sempre vale a pena!
Gaiato Pipero
Levado pela
pipa
Observa e
absorve as cores da vida.
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