segunda-feira, 13 de agosto de 2018

GAIATO PIPERO, LEVADO PELA PIPA


APRESENTA
GUIA BÁSICO DE SOBREVIVÊNCIA INTELECTUAL


Minha casa é meu bairro, minha comunidade. Lá onde eu moro, na periferia, pra maioria dos meus amigos é assim também. Pra gente, entrar em lugar fechado é só em casa, pra se esconder do frio, e na escola, onde os adultos mandam a gente ir. No resto do tempo gostamos de andar e correr pelas ruas, onde nos sentimos livres de verdade.

Mas, o que realmente gosto de fazer é dar uns rélos com minhas pipas. Eu e meu amigo, Dito Coré, somos os campeões da rua. Ninguém ali conseguiu mais pipas do que nós. Outro dia, num daqueles dias de vendo e sol forte, de queimar o pé no asfalto e de batizar todos os carretéis, fora três pipas de uma só vez. Foi um desespero só! Afinal, como correr sozinho atrás de três! O Dito correu atrás da amarela, eu fui atrás da branca e a vermelha ficou ali, como que esperando ser buscada, se sentindo ignorada, sendo arrastada pelo vento. No fim, pegamos as três... mas essa história é longa, conto depois.

Um dos meus lugares favoritos da cidade são os telhados. Além das várias pipas que já encontrei (e das várias telhas que já quebrei), também é um lugar onde me encontro e nunca sou encontrado. Ali posso ficar tranquilo, ouvindo o som dos humanos e pensando sobre o que quiser. Também levo pra lá alguns livros que meu avô Gérso me passa, pois ele disse que ler faz bem pra cabeça e que vai me ajudar a fazer pipas melhores e escolher sempre o caminho mais curto para chegar até elas.

Entre as leituras e cochilos que tiro no telhado, gosto também de ficar olhando pras pessoas. Sabe, percebi que ninguém nunca me viu nos telhados! As pessoas andam tão ocupadas no trânsito, nos celulares e nelas mesmas que se esquecem de olhar pra cima e pros lados. No fundo, acho que só olham pra elas mesmas...

Nesse momento estou lendo um livro de nome ‘’O Caçador de Pipas’’. Já estou quase no fim. Li o livro muito rápido! Apenas três telhados já foram o suficiente para quase terminar. Percebi que meu vô me enganou, pois disse que eu ia aprender um monte de coisas sobre pipas quando lesse o livro. Sobre pipas mesmo não aprendi quase nada! Mas, como é um livro que fala sobre uma região bem longe daqui, aprendi que as pessoas são pessoas em todo lugar do mundo e sentem mais ou menos as mesmas coisas que todos nós sentimos, seja aqui do telhado, aqui na comunidade ou em toda cidade.

Agora deixa eu ir, que estou vendo lá de longe uma pipa no horizonte!
Essa acho que vai ser difícil, mas a correria sempre vale a pena!

Gaiato Pipero
Levado pela pipa
Observa e absorve as cores da vida.

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