A entrevista de hoje é com o Thiago, professor de Química e Biologia.
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Ilustração: Victoria Rodrigues |
1. Qual a sua expectativa para esse
ano de 2018?
''Minha
expectativa sempre é muito alta e as melhores possíveis, digo isso considerando
dois aspectos: o primeiro tem relação com o que espero para o meu trabalho como
professor durante o ano, o segundo tem relação com os alunos que conviveremos
durante ano. Para 2018 quero, ao fim do ano, o olhar para o que realizei como
professor e ter a segurança que fiz o melhor que poderia ter feito frente as
situações enfrentadas ao longo desse período. Também trago expectativas em
relação aos alunos, sempre espero e quero que eles possam chegar ao fim do ano
e nos dizer coisas do tipo como “foi legal passar um ano aqui”; “tive bons
momentos esse ano”; “eu mudei”. Posso dizer que quando o movimento de final de
ano traz relatos dessa natureza minhas expectativas passam do plano das ideias para
o plano material das nossas vidas''.
2. Como é seu método de ensino?
''Não
sei bem se tenho um método, ou se tenho vários. Mas posso apontar algumas
características que reconheço nas minhas aulas. Acho essencial para um bom
trabalho o professor sempre envolver os alunos nas aulas, para mim o aluno tem
que participar da aula. Se o aluno chega ali, senta e fica escutando um ser
falar, ele foi a uma palestra, não a uma aula. Eu não gosto de dar palestras,
eu gosto e quero dar aulas! Na preparação das aulas procuro inserir momentos
nos quais os alunos têm que dialogar comigo, seja respondendo pergunta lançadas
por mim, seja apresentando justificativas às resoluções de exercícios apresentadas
à sala ou realizando alguma tarefa mais direcionada. Posso dizer então que que
adoto o método do diálogo, claro se essa questão se configurar como método.
Outro ponto que reconheço praticar na minha atuação como professor é zelar por uma
relação verdadeira com meus alunos, pois acredito que trazer a verdade para a
relação entre os indivíduos condiciona confiança entre eles. Para o trabalho do
professor e o desenvolvimento do aluno, a confiança é elemento importante.
Buscar por uma relação verdadeira com os alunos implica em apontar os acertos e
também seus erros, implica em dizer-lhes suas forças e suas fraquezas na
matéria, implica também no insistir que eles se debrucem sobre os assuntos que
precisam ser melhor apreendidos por eles. Então, assim posso dizer que adoto o
método da verdade, se existir um método da verdade''.
3. Como você lidou com a pressão do
vestibular?
''Já faz
algum tempo que prestei os vestibulares, por isso alguns elementos podem ter se
perdido. Contudo, quando vestibulando não lembro de me sentir pressionado pelo
vestibular. Acho que isso pode ter acontecido devido ao vestibular não ser uma
obrigação para mim e sim uma possibilidade. Eu tinha a segurança de que fazia o
melhor para aprender as matérias que os professores me apresentavam. Eu,
consegui entender que poderia ter facilidade em algumas matérias e em outras
apresentar dificuldades gigantescas e que estas precisariam de mais tempo para
eu superar. Eu aceitei isso! Acho que aceitarmos que não somos, não precisamos
e nunca seremos bons em tudo o que fazemos é um caminho para lidarmos com essa
perigosa pressão que os vestibulares jogam em nossas costas''.
4. Na sua opinião, qual a melhor forma
de se concentrar nos estudos?
''Essa é
bastante interessante! Não há caminhos fáceis, muito menos curtos. Se você quer
melhorar sua concentração ao estudar, sente e estude! Se precisar, sente
novamente e estude, insista nesse movimento. Quanto mais você pratica
determinada ação, menos custosa será a realização dessa ação. Não ache que isso
será uma tarefa fácil, pois estudar é tão difícil quanto qualquer outro
trabalho. Tem um autor italiano chamado Gramsci que diz o seguinte sobre o ato
de estudar:
“Deve-se convencer a muita gente que o
estudo é uma profissão, e muito fatigante, com um tirocínio particular próprio,
não só intelectual, mas também muscular-nervoso: é um processo de adaptação, é
um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e sofrimento”
Em
outras palavras, quando estiver querendo concentração para estudar se obrigue a
superar o aborrecimento e sofrimento promovidos por essa sua ação. Ao assim
fazer, você verá que estudar tem seus nuances prazerosos''.
5. O que te levou a seguir a profissão
de professor?
''Eu não
consigo dizer o que me levou a ser professor, ainda não descobri. Mas posso
dizer o que me mantém como professor. Entendo que somos seres que se constroem
a partir das inter-relações de dois arcabouços, o biológico e o social. O
desenvolvimento biológico é garantido pela seleção natural e garante as nossas
características físicas e fisiológicas de espécie. O desenvolvimento social é
garantido pela apropriação dos conhecimentos e das construções culturais
construídos pelas gerações que nos antecederam. Diferentemente do
desenvolvimento biológico, o desenvolvimento social de cada indivíduo depende
do quanto esse se apropria dos conhecimentos e das construções culturais das
gerações anteriores. É nesse ponto que vejo a importância do trabalho do
professor. Vejo o professor como o profissional responsável por criar situações
nas quais os alunos tenham a possibilidade de construir o desenvolvimento
social do seu ser. Ser professor é trabalhar diariamente para possibilitar o
desenvolvimento social dos meus alunos, ou seja, é contribuir a formação de
indivíduos pertencentes de uma sociedade. Ser professor é suprir a necessidade
pessoal de me sentir útil para a sociedade. É me sentir um indivíduo ativo e
contribuinte à construção da sociedade que vivemos''.
6. O que inspira?
''O que
me move, o que me faz querer fazer sempre mais e melhor as atividades que me
envolvo é sem dúvida corresponder à confiança depositada no meu trabalho e no
meu modo de ser, quer por meus alunos, quer pelas pessoas com as quais eu
convivo. Aqui vale uma ressalva. Quando me refiro a corresponder à confiança
não é fazer o que os outros esperam que eu faça, é mais do que isso!
Corresponder à confiança é entregar para as pessoas que depositam sua confiança
no meu trabalho ou no meu ser, o compromisso de que farei o melhor possível
dentro das condições que terei para fazê-lo. Desse modo corresponder a sua confiança
em mim seria como entregar o meu melhor para você. Isso me move, isso me faz
ser melhor!''.
7. Indique 1 música; 1 filme; 1 livro
-Música:
O Anjo Mais Velho – Teatro Mágico.
-Filme:
Trilogia de Jogos Vorazes.
-Livro:
Admirável Mundo Novo – Autor: Aldous Huxley.
8. Você sempre teve certeza da
faculdade que queria prestar?
''Posso
dizer que sim, apesar de não ser tão simples esse “sim”. Eu tento explicar. A
escolha pelo curso de Ciências Biológicas se deu principalmente pela estrutura
familiar e também por conta das minhas capacidades intelectuais daquele
momento. Minha família teria grandes dificuldades para me manter numa
universidade fora da cidade em que eu morava, os custos para isso estavam fora
do nosso orçamento. Como há um campus da UNESP na cidade em que eu residia, decidi
escolher um entre os cursos oferecidos por essa unidade. Dentre os cursos
ofertados ponderei o grau de dificuldade de ingresso em cada um deles. Com a segurança
que minha escolha se dava a partir da minha condição de vida e que essa impunha
limites às minhas possibilidades de escolha, optei pelo curso de Ciências
Biológicas, por ser um curso que atendia a essa necessidade e ao mesmo tempo
era uma matéria que eu tinha facilidade para estudar durante o período que fiz cursinho''.
9. Deixe um recadinho para os alunos.
''Não
tenham medo de enfrentar o que te causa desconforto, angustia, o que te tira da
zona de conforto ou o que expõe as suas fraquezas. Pelo contrário, arrisque-se justamente
nesses pontos, não deixe de superar as dificuldades, pois só assim haverá crescimento
pessoal, só assim haverá desenvolvimento do seu ser''.
Até a próxima <3
Verônica Camargo
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