segunda-feira, 15 de maio de 2017

Falar sobre o NOIA é aventurar

  Falar sobre o NOIA é aventurar-me por uma história que contam e recontam. Imaginem, voltemos à segunda metade da década de 80. Uma casa pequena, uma mesa redonda, meia dúzia de cadeiras, uma placa feita a mão “AULAS – TODAS AS MATÉRIAS: Português, Matemática, Física, Química, Biologia, História e Geografia”. Uma única professora. Dizem que foi assim que começou! 
   E foram aparecendo alunos e mais alunos... alguns podiam pagar, outros nem tanto, uns levavam cadeiras, outros livros, alguns só a vontade de estudar, outros nem sequer a vontade. Alguns tinham prova na escola, outros queriam passar no vestibular.
  E a mesa redonda foi ficando pequena demais, foi ficando apertada. Um ia ensinando o outro, um sentava na poltrona rasgada, outro lia deitado na cama, alguns preferiam a varanda, outros se esparramavam no sofá... e chegaram à calçada! Os vizinhos foram emprestando mais mesas, levavam quitutes, dava gosto de ver, era gostoso aprender!
    Mais professores foram chegando, a quantidade de livros foi crescendo, a estrutura organizando-se, o número de alunos aumentando. Nascem assim, o cursinho pré-vestibular, os grupos de estudo e as aulas particulares... Cresce o cursinho, formam-se turmas, mas sempre turmas pequenas, até trinta alunos, período integral, numa tentativa de manter a essência da casinha pequena. 
   Ah, a saudosa casinha pequena! Todos juntos, estudando, aprendendo, ensinando. Próximos, alunos e professores, alunos-professores, professores-alunos. “Donde nóis passemo os'dias feliz de nossas vida”.
     De tanto crescer, endureceu. Horários rígidos: 7h – Português, 8h – Matemática, 9h – História. Desliga o botão! Liga o botão! Sai professor! Entra professor! Desliga! Liga! Desliga! Liga! Desliga! Liga!
    Desliga tudo! Para tudo! Não somos máquinas... os alunos não são máquinas! Cadê a alegria de aprender, cadê o gosto do saber?
  Era preciso mudar, voltar ao passado, há vinte anos. Amadurecidos. Renovados.          Tomamos coragem (morrendo de medo)! Mudamos. Melhoramos.
   Aperfeiçoamos. Turmas ainda menores, maior proximidade entre as pessoas, no máximo quinze alunos por professor. Horário de adolescente cibernético, as aulas começam depois das 8h. Professores compartilhando a mesma sala de aula, maiores chances de trocas interdisciplinares. Estudantes com maior liberdade para montar seus horários, dados os limites colocados pela escola. As pequenas mesas redondas multiplicaram-se.
   Começa um novo ano letivo. Primeira aula:”Quem quiser estudar Matemática venha aqui!”, “Física, física, MRU, Movimento Retilíneo e Uniforme!”, “Pré-história, vamos a pré-história!”. Por cinco minutos parecia uma feira livre. Era professor chamando alunos e alunos perguntando o que fazer. 
    De repente o silêncio, cada professor com seu grupo... passa uma hora, meninos estudando... passam duas horas, meninos estudando. Nós, professores, cruzando olhares: eles não deveriam estar pedindo um intervalo? E cada professor sussurra para seu grupo: “Vocês não querem, por um acaso, fazer um intervalinho e, talvez, mudar de matéria, estudar outra coisa?”
    Por alguns dias, a feira livre. Mas pouco a pouco os alunos começam a dirigir-se às aulas sem confusão. Dia a dia passam a montar seus horários e seus grupos. E haja trabalho duro dos professores tutores, em encontros com seus filhos-tutorados. Como vão os estudos? O que está mais difícil? E mais fácil? E como está em casa? E aqui na escola? E o vestibular? E o namorado? E a vida? `
   Tem aluno que dá mais atenção à Redação, tem aluno que deveria dar mais. Já outros só querem saber das Exatas, só das Humanas, só das Biológicas... “Pouco prudente!”, dizemos a eles. Temos os poetas, os artistas, temos os super-racionais, os ultraemotivos. E eles vão se encontrando, e nós vamos nos conhecendo...
   Alguns aos poucos começam a se soltar e vão estudar a sós na biblioteca, outros passam a ler todo dia o jornal. Os que ficam estudando à noite ganham a chave de casa e ajudam-nos a fechar a escola. Não posso esquecer-me do grupo que só quer ficar na salinha do meio, esperando algum professor passar para fazer alguma pergunta. 
   E assim, o ano foi passando, o vestibular se aproximando... O psicólogo trabalhando: risos, choros e chocolates... A cozinha fervilhando: almoços, chás e bolinhos de chuva... Os alunos estudando: aulas, livros, listas, dúvidas, erros, acertos...
  Agora temos um novo e maravilhoso problema a resolver: excesso de alunos interessados!

 Tatiana Barbosa – Professora do NOIA


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